Lá estava ele, sentado a poucas mesas de distância, mas ainda assim infinitamente distante. Conversava descontraído com os amigos, exibindo seu sorriso rotineiro suave e cativante. A luz da tarde entrava pelas grandes janelas da sala de aula, acompanhada pelo vento que sacudia despretensiosamente as cortinas, banhando a pele negra do rapaz e conferindo-lhe uma aura peculiar. Seus olhos de tom castanho muito claro pareciam acesos a cada vez que se virava para conversar com os amigos. Era uma visão tão magnética que sentia que poderia ficar ali, congelada contemplando aquele momento por toda a eternidade.
- Ei Naty...
Notou alguém se movendo ao seu lado esquerdo, mas estava tão desinteressada no que acontecia ao seu redor que permaneceu estática com o queixo apoiado sobre o punho, observando fixamente o jovem negro sentado mais adiante.
- Natiele! Quer parar de babar e voltar para esse planeta, por favor? – Tornou a repetir a voz, com impaciência.- Ei Naty...
Notou alguém se movendo ao seu lado esquerdo, mas estava tão desinteressada no que acontecia ao seu redor que permaneceu estática com o queixo apoiado sobre o punho, observando fixamente o jovem negro sentado mais adiante.
- Ah, oi. Que houve? – Respondeu Naty afobada, levantando a cabeça do apoio que fez com o braço.
- Então... Que tal você se concentrar um pouquinho nessa porcaria de trabalho aqui, em vez de ficar secando o Edu? – Resmungou a colega loira, apontando para a questão número sete da folha que tinha sobre a mesa.
- Ah... Certo, certo... – Naty ajeitou os longos cabelos tom castanho atrás da orelha esquerda e abaixou os olhos para o papel que a colega indicava – E eu não estava “secando” ele, sua cretina.
- Ah não. Só lambendo ele com os olhos. – A colega franziu a testa, enquanto tentava interpretar a questão da atividade repassada pelo professor de Economia – A propósito, vocês se conhecem desde pequenos não é?
- Sim.
- E por que até hoje você nunca chegou nele, já que está evidente que tu curte o cara?
Naty empertigou-se na carteira, desconcertada.
- Não é que eu nunca cheguei nele... Já tentei. Várias vezes, aliás. – Suspirou discretamente – Mas ele nunca mostrou sinal de interesse em mim.
Naty sabia que estava mentindo. Mas era o modo mais fácil de se esquivar dessas perguntas inconvenientes.
- Talvez ele seja gay? – Cogitou a colega, levantando os olhos para visualizar Eduardo – Eu não duvidaria... Ele está sempre andando com aqueles marombados do curso de Educação Física.
- Acho que não. Mas que tal VOCÊ se concentrar no trabalho agora, hein? – Encerrou Naty, pouco disposta a continuar falando sobre o rapaz com sua colega insensível.
A garota fez um gesto de desdém com a mão e tornou a se concentrar na atividade da aula, deixando o assunto descansar dentro dos pensamentos de Naty novamente.
- Só penso que você deveria pôr um fim nessa novela. Tenta mais uma vez Naty, confessa para o cara que você é afim dele. Não fique aí vendo a vida passar. Por acaso quer morrer sem nem sequer ter feito isso na vida?
“2ª série
Natiele - turma 2B matutino
Eduardo - turma 2B matutino
Aula de artes
Risos ecoavam ao seu redor, a pequena Naty estava constrangida, prestes a chorar. Garotos zombavam de seu desenho.
- Princesa penosa! Hahaha...
- É uma galinha gorducha voadora! Hahaha...
A professora conversava distraída com outra mulher, distante dali, sem perceber o que faziam a Naty. A pequena abaixou a cabeça, sentindo suas bochechas salientes esquentarem com a chegada iminente das lágrimas.
- Calem a boca seus idiotas. O desenho dela é melhor do que qualquer coisa que vocês fariam juntos!
Os risos cessaram.
- Ui, chegou o príncipe da penosa!
- Que medo... Veio defender a gorducha...
O garoto de pele negra que interveio na zombaria empurrou um dos que estavam ao redor da pequena menina cabisbaixa.
- Ei, pare de me empurrar. Você tá ferrado no final da aula, babaca.
- É! Vai perder os dentes!
Os zombeteiros, intimidados, se afastaram. Mas Naty ainda chorava.
Alguém se abaixou ao seu lado e tocou seu braço com delicadeza.
- Tá tudo bem... Não ligue para o que eles dizem. Seu desenho tá incrível.
Naty fungou o nariz e ergueu os olhos chorosos para o colega, que admirava genuinamente fascinado o desenho que ela havia feito.
- Você... Você gostou Dudu? De verdade?
O Garoto abriu um sorriso cativante, e respondeu balançando com a cabeça:
- Sim! Você gosta de desenhos animados? Pois essa aqui parece uma heroína alada muito legal!
- Ah... Não não... É só um sonho que tive uma vez.
- Poxa, muito maneiro! Você devia ser desenhista de animes!
Naty sorriu.
Seu choro havia cessado.”
Já deviam se passar das quatro da tarde, quando Naty caminhava pelo corredor vazio do terceiro andar do prédio da universidade. As aulas do dia já haviam acabado, mas ela havia decidido ir até a biblioteca retirar alguns livros para estudar melhor o conteúdo atual da disciplina.
A grande verdade, é que a jovem estava apenas caminhando a esmo pela instituição enquanto tentava organizar seus pensamentos. Algo doía dentro de seu peito, como uma farpa cravada no coração; algo que esteve machucando há quase 12 anos e agora parecia exigir que fosse retirado dali. É inacreditável pensar que ela viveu todos esses anos sem nunca sequer revelar o que sentia para Edu. Sempre o admirando de longe, como algo distante e intangível; a personificação de seus sonhos que não se sentia capaz de reivindicar. Nem sequer sentia-se digna de olhá-lo nos olhos e confessar seus sentimentos.
A conversa com sua colega na aula de algumas horas atrás, parecia ter desenterrado sem explicação todas as pedras que Naty havia jogado sobre seus desejos mais íntimos. Sabia que precisava pôr um fim nessa angústia que trazia consigo, antes que fosse lentamente sufocada por ela.
A jovem caminhou até a parede branca, apoiando-se próxima a uma larga janela e cobriu o rosto com as mãos. “Sou patética...”, pensou consigo. Sentia-se esquisita naquele instante, de um modo que nunca havia se sentido antes. Sua respiração estava ficando gradativamente pesada e o ar parecia não lhe prover mais oxigênio suficiente. Estaria tendo um início de ataque?
Descobriu o rosto e lançou um olhar tristonho para o pátio visível pela janela. Algumas pessoas caminhavam ali, enquanto as árvores agitavam suas folhas e salpicavam de verde o chão e os bancos de concreto. “Já basta. Vou me declarar para ele. A primeira oportunidade que surgir, eu vou expor tudo que sinto e dane-se o que vier a acontecer depois.” pensou a garota. Não era mais humanamente possível continuar levando aquilo adiante, estava exausta de ser refém de sua insegurança.
Afastou-se da janela e precipitou-se para caminhar até um banheiro próximo, tendo a estranha sensação de que o chão ondulava a cada passo. Um movimento mais adiante no corredor chamou sua atenção; seu corpo estremeceu por inteiro e um peso afundou em suas entranhas ao reconhecer quem estava caminhando em sua direção.
- Naty? O que você está fazendo por aqui? – Perguntou Edu, exibindo seu sorriso cativante e suave.
A garota congelou no lugar, enquanto o rapaz continuava se aproximando com tranquilidade.
- Eu... Eu... É... Eu estava indo para a bi-bi-bi-biblioteca, sabe... – Gaguejou Naty, repetindo o mesmo comportamento constrangido e atrapalhado que sempre exibia na presença de Edu.
“Meu Deus, ele tá aqui! Ele tá aqui! Estamos sozinhos no corredor! Estamos a sós!...” pensou a jovem, estupefata com a absurda coincidência.
- Sério? Acabei de sair de lá, fui pegar uns livros pra estudar melhor a matéria. – O rapaz parou de sorrir ao notar a expressão estranha no rosto da garota – Está tudo bem contigo? Você parece meio esquisita.
- Não, não... É só que... Só que... – Naty sentiu um breve choque em seu pulso direito, fisgando os nervos de sua mão – Ai!
O rapaz franziu a testa e se aproximou mais, tocando o ombro da garota.
“Ele está me tocando! Ele está com a mão no meu ombro!”, os pensamentos da jovem disparavam e seu coração batia ferozmente contra o peito.
- É sério Naty, você está com o rosto pálido. Está até suando. Acho que devia ir até a enfermaria e...
“Reação em cadeia eclodindo – risco de extinção”.
A garota arregalou os olhos e levou as mãos à cabeça, assustada.
- Você ouviu isso??
- Ouvi isso o quê? – Indagou confuso o rapaz.
- Uma voz... Meio... Meio... Robótica... Acabou de dizer “reação em cadeia alguma coisa”! Ah... Eu eu eu... Eu não estou NADA bem. – Naty se desvencilhou da mão de Edu e saiu em disparada pelo corredor; sua mente estava se perdendo num súbito emaranhado de flashes desconexos. A única coisa que ainda se mantinha nítida era a expressão confusa no rosto de Edu. Havia mais uma vez agido como uma maníaca e estragado tudo diante dele.
Como sempre.
A garota havia corrido alguns metros quando um repentino e intenso tremor abalou o prédio inteiro, fazendo as paredes estalarem com várias rachaduras e desequilibrando os dois jovens no corredor. Naty perdeu o senso de equilíbrio e acabou tropeçando, caindo dolorosamente de bruços.
- Naty! – Exclamou Edu.
A garota, com os cabelos caídos sobre a face, lançou um olhar atordoado para trás e viu o rapaz tentando se aproximar para ajuda-la enquanto apoiava-se com dificuldade na parede próxima.
Houve um segundo tremor, muito mais intenso, que estilhaçou estrondosamente os vidros das janelas e ampliou as rachaduras do chão ao teto do corredor, lançando cacos de concreto e vidro por toda parte. Era possível ouvir em meio à confusão gritos vindos do lado de fora do prédio, bem como o ruído de centenas de objetos desmoronando e alarmes de veículos apitando freneticamente.
- O que é isso?! – Exclamou assustado Edu, lutando para se manter em pé.
Os membros de Naty tremiam descontroladamente, ela estava em um estado de pânico profundo. Porém, algo no fundo da mente de Naty parecia saber o que estava acontecendo e a mantinha de certo modo lúcida. Sabia que algo muito terrível estava prestes a acontecer. Aquilo era apenas o simplório começo de um descomunal fim.
Subitamente, um terceiro e gigantesco tremor teve início. As paredes se racharam violentamente; pedaços de concreto se desprenderam do teto e caíram no piso que, por sua vez, ruía sobre os andares inferiores, levantando uma asfixiante nuvem de poeira cinza que se espalhou por todo o corredor como uma explosão.
Naty gritou apavorada cobrindo a cabeça e se encolhendo no chão para se proteger dos detritos que despencavam com estrondo. Era possível ouvir o assustador barulho da fundação do prédio ruindo, misturado com o som de milhares de gritos e explosões que pareciam estar ocorrendo por toda a extensão da cidade.
A garota ouviu um intenso grito de pânico do rapaz e tentou avistá-lo em meio ao caos e a poeira cinzenta, preocupada se algo havia acontecido a ele.
- EDUU!!! Onde você está?! S-socorro!!! M-meu Deus, socorro!!!
- N-NATY!!! AH! N-não estou enxergando nada!
A garota, num ato desesperado, lançou-se de pé com toda a força que lhe foi possível reunir e avançou através da densa nuvem de poeira rumo ao rapaz, tropeçando em blocos de concreto e sentindo cacos caírem dolorosamente sobre sua cabeça.
- NÃO!!! Naty! Pare! PARE!!!
A jovem, sem conseguir enxergar direito o que havia diante de si devido aos olhos irritados e lacrimejantes, parou de chofre ao ouvir os pedidos exasperados de Edu.
- Olhe para baixo Naty! Não se mova!!
A garota esfregou rapidamente os olhos e tentou forçar sua visão embaçada pela poeira densa. Assim que os abriu, constatou que a poucos centímetros de onde seus pés estavam, o chão havia simplesmente desaparecido dando lugar a uma vala que se aprofundava até aquilo que parecia ser o que restava do andar térreo. O prédio havia sido literalmente dividido ao meio pelos tremores, deixando uma fenda de aproximadamente cinco metros de largura.
- AAAHHH! – Exclamou Naty, recuando apavorada da borda da rachadura, até perceber que o teto imediatamente após o local onde Edu estava abrigado havia desmoronado por completo, bloqueando toda a passagem daquele lado do corredor. A única parte inteira era o minúsculo trecho que o rapaz se encontrava agora, e da forma como estava se despedaçando rapidamente, tudo indicava que não iria suportar o tremor por mais tempo – O teto Edu! O TETO!!!
O rapaz olhou para cima, protegendo-se dos destroços e poeira, e constatou o terrível fato de que estava prestes a ser soterrado. Abaixou os olhos para onde a garota estava e seus olhos se encontraram em meio ao caos que explodia ao redor de ambos.
Era inútil que Edu tentasse pular a fenda. Jamais conseguiria saltar sobre aquela longa distância em tais condições; e mesmo se conseguisse, o impacto do salto faria o já instável piso desabar imediatamente.
- Não... Não... – Murmurou Naty, parecendo presenciar aquele momento em câmera lenta, enquanto as lágrimas escorriam do canto de seus olhos.
Edu, inesperadamente, esboçou um breve sorriso que contrastou com o pavor estampado em sua face coberta de poeira e escoriações. Um sorriso guiado por um olhar que parecia dizer a Naty “me desculpe, acho que não poderemos mais nos esbarrar em corredores de novo, me desculpe”.
- Não...
O coração bateu contra o peito.
- Não...
O rapaz fechou os olhos.
- Não...
O pesado bloco de concreto desmoronou.
- EDUARDOOOO!!! – Gritou Naty, estendendo o braço direito em direção ao rapaz enquanto as lágrimas desprendiam de suas bochechas cobertas de pó e seus cabelos se agitavam no ar pelo impulso de seu corpo.
Numa fração de segundo, um círculo de luz branca expandiu ao redor do pulso de seu braço estendido, como uma enorme pulseira holográfica. Houve um relâmpago seguido por um estrondo violento e Naty foi jogada para trás devido ao impacto de algo muito pesado e volumoso, mas ao mesmo tempo macio, contra seu corpo magro e frágil.
Sentindo uma dor lancinante nas costas por ter caído sobre centenas de cacos de concreto, e quase sendo esmagada pelo imenso peso que estava pressionando seu peito arfante, abriu os olhos atordoada. Deparou-se inacreditavelmente com o rosto de Edu a poucos centímetros do seu. O rapaz estava caído sobre si; ambos os corpos se encostando de um modo sem precedentes para Naty. Podia sentir seu peito forte, seus braços definidos e suas pernas musculosas; simplesmente ali, juntos de seu próprio corpo sem nenhuma explicação. Era como uma gota de vida caindo em um oceano de angústia.
“4ª série
Natiele - turma 4A matutino
Eduardo - turma 4A matutino
Aula de Educação Física
Naty estava sentada no gelado piso de concreto pintado de cor azul escura, delimitado por linhas amarelas inteiras e algumas linhas pontilhadas. Seu joelho esquerdo ardia e sangrava.
As colegas se reuniam ao seu redor para perguntar o que havia acontecido.
- Naty, o que aconteceu? – Indagou um professor, agachando ao seu lado.
- Eu... Eu tropecei enquanto corria.
- Certo. Deixe-me ver... Hum... Bom, foi apenas um ralado. Mas quero que você vá até a enfermaria para limpar isso, ok?
A menina assentiu e levantou-se com a ajuda do professor.
- Melhor alguém te ajudar a chegar lá. Espere um instante. – O homem virou a cabeça para os lados, procurando algo – Ei, Dudu! Venha aqui, por favor.
O menino aproximou-se correndo e notou que Naty estava machucada. Antes que ele pudesse perguntar o que houve, o professor prosseguiu:
- Dudu, ajude a Naty a ir até a enfermaria. Ela caiu e ralou o joelho.
- Tá professor.
O menino foi até a menina e lhe auxiliou a caminhar sem mover a perna machucada. Lentamente saíram da quadra de esportes do colégio e rumaram pelos corredores de azulejo cinza até a enfermaria.
- Prontinho mocinha, agora eu só vou passar um remedinho aqui. Vai arder um pouquinho tá bom? – Disse a enfermeira, abrindo um frasco com um líquido de cor laranja escuro e pingando em um tufo de algodão.
- Não quero!... Isso vai doer... – Choramingou Naty, afastando seus joelhos da mulher.
- Fique tranquila, você é forte. – Insistiu a enfermeira.
- Não...
Edu interveio e segurou a mão direita da menina amedrontada.
- Faz o seguinte, segura minha mão e fique só olhando pra mim. – Em seguida, o menino começou a fazer caretas bastante cômicas – Ué, tá rindo do quê? Só porque estou com um espelho no lugar da cara, é?
Naty riu.
A enfermeira aproveitou a oportunidade e aplicou o remédio cuidadosamente sobre o machucado da menina. Mas ela nem sequer se importou com a dor; a mão que segurava a sua lhe forneceu toda a coragem que precisava no mundo.”
A mente da garota despencou em um abismo de emoções turbulentas, enquanto o rapaz despertava atordoado, erguendo a cabeça com seu cabelo curto completamente cheio de poeira.
- N-Naty...? Mas o quê...?
O rapaz se levantou um pouco mais, removendo seu elevado peso de cima da jovem, e olhou para trás. Em meio à recém-levantada onda de poeira no local onde ele estava há poucos segundos, era possível visualizar uma cena aterrorizante: um braço, uma cabeça e um ombro de pele negra saltavam para fora de uma pilha de escombros, acompanhados por uma poça de sangue vividamente vermelho que avançava banhando os destroços e escorrendo na fenda do prédio formando uma pequena cascata rubra.
Edu tombou para o lado, em estado de choque.
Naty levantou o tronco com muita dificuldade e olhou para aquilo que o rapaz contemplava em choque. As lágrimas tornaram a escorrer pelo rosto da jovem, sem compreender o que estava havendo.
- Seu... Pulso... Naty... – Murmurou subitamente Edu, com uma expressão vazia enquanto fitava o braço da garota.
Naty desviou os olhos do corpo soterrado e levantou seus braços trêmulos diante de seu rosto. Em seu braço direito havia uma espécie de halo de luz, girando ao redor de seu pulso, posicionado a alguns centímetros de distância de sua pele.
Antes que a garota pudesse expressar qualquer reação, um brusco desnivelamento do piso despertou os dois do estado de torpor em que se encontravam e reacendeu o terror da situação em que se encontravam.
- O prédio... Acho que ele está... Tombando! – Exclamou Edu, tentando inutilmente se pôr de pé enquanto o local estremecia com intensidade.
Naty observou os destroços escorregarem gradativamente para o fundo distante do corredor, conforme a inclinação se tornava cada vez maior.
- Ah não! – Exasperou-se Edu.
A garota, num estado de pânico profundo, movida por um instinto que não parecia ser seu, agarrou a mão direita do rapaz com bastante força e clamou:
- Segure com toda a força que puder.
Edu, confuso com a súbita e enigmática atitude determinada da jovem, apenas assentiu com a cabeça e apertou com firmeza a mão que segurava a sua. No instante seguinte o prédio implodiu, lançando uma nuvem de poeira que avançou rugindo vorazmente em direção aos dois jovens de mãos dadas. Naty olhou para cima e viu o imenso céu azul se expandindo sobre si conforme o prédio tombava catastroficamente.
Os dois foram derrubados pela inclinação e despencaram escorregando aos gritos por entre os destroços.
“Nos tire daqui por favor!”, implorou ela.
Houve um solavanco fisgando seu corpo e tudo ao seu redor se contorceu em um veloz turbilhão branco, produzindo um zunido agudo semelhante ao ruído produzido pelo vento em alta velocidade. Sentiu o elevado peso de Edu em seu braço direito, que aparentava puxar consigo naquele estranho túnel de imagens distorcidas.
Então, toda a turbulência ao seu redor desapareceu do mesmo modo que surgiu e deu lugar a um imenso azul de aspecto infinito, salpicado de riscos brancos e fofos que se perdiam no distante horizonte.
A garota olhou para baixo e sentiu todo seu corpo se estremecer ao perceber que estava, naquele instante, pairando a uma altura gigantesca acima da cidade em que vivia. Dali era possível visualizar imensas fendas que se abriam no solo da cidade, tragando completamente as ruas e construções para seu interior incandescente. Gordas nuvens de poeira e fumaça se erguiam ao céu e explosões pontilhavam por toda a parte no mar de concreto e asfalto. Mesmo àquela distância, era possível ouvir os gritos de milhares de pessoas lançadas naquela destruição descomedida.
Uma conhecida exclamação de pavor vindo logo abaixo de Naty chacoalhou-a de sua paralisia momentânea, e a fez deparar-se com o rapaz pendurado naquela altura segurando apenas sua mão direita enquanto suas pernas balançavam descoordenadas no ar.
A cena aumentou ainda mais o desespero da garota. De súbito, a inexplicável flutuação que estava sendo exercida sobre eles cessou, e os dois despencaram como pedras em direção ao solo. Naty e Edu gritaram horrorizados enquanto desciam em aceleração crescente, com o vento castigando seus rostos e o ruído do vácuo quase ferindo seus tímpanos.
Em meio ao pânico, Edu acabou desprendendo-se da mão de Naty e logo se distanciou na queda com surpreendente rapidez. Seu peso era muito maior que o da jovem.
- NATYYYY...!!!
- EDUUUUU NÃOOOO...!!!
Vendo o rapaz afastar-se cada vez mais, a garota tentou em vão mergulhar para ao menos alcança-lo. Mas naquela velocidade, já teriam se espatifado no solo antes que isso pudesse acontecer.
Com os pensamentos surgindo impulsivamente, Naty recordou-se do evento inexplicável que ocorreu dentro do prédio, onde o teto desmoronou sobre o rapaz e ele foi salvo de alguma forma por ela. Lutando para vencer a forte resistência do ar, a garota estendeu o braço direito em direção a Edu. O misterioso halo holográfico permanecia girando ali com tranquilidade; quase como se estivesse aguardando algo ser solicitado a ele.
“Por favor... Nos tire daqui... Nos salve... Por favor...” implorou Naty, vendo Edu rodopiar desamparado aproximando-se cada vez mais do chão da cidade. “Por favor... Nos leve para longe daqui...”
Subitamente, o halo de luz branca alargou-se ao redor de seu pulso e se contraiu numa fração de segundo. Houve um relâmpago diante de seus olhos, produzindo um estrondoso ruído que ecoou pelo céu. No instante seguinte, Edu foi bruscamente fisgado para cima, rumando em direção a Naty enquanto outro Edu continuou sua irrefreável trajetória de queda. O rapaz e garota voaram de encontro um ao outro, agarrando-se pelas mãos em pleno ar. Houve um novo relâmpago e os dois jovens simplesmente desapareceram no céu.
Enquanto isso, alguns metros abaixo, o corpo de um rapaz negro jazia sobre o trecho de uma avenida destruída, com seu vívido sangue espalhando-se em uma ampla poça e infiltrando-se pelas rachaduras do asfalto que era lentamente engolindo pelas valas incandescentes.
Continua.
1 comentários:
Wowww... mas que começo hehehe.
Bom, por onde começar? Odiei os nomes mas acho que ira interferir em muita coisa. Logo e cara me deparo com o que me parece inicialmente se encaixar perfeitamente em um Anime, porem logo me acostumei com a ideia. Já foram lançados ao ar vários pequenos mistério... realmente intrigante. Mas realmente nada mais do que o esperado de você, estória aparentemente atrativa, personagens com um bom "fundo" emocional e muita, mas muita empolgação nas descrições, as vezes chegando a ser peculiarmente engraçado hehehe.
Espero asiosamente pela continuação... e o pulso ainda pulsa...
Postar um comentário